quarta-feira, 19 de abril de 2017

Deixemos o Cingapuragate para trás


Estou parecendo um colunista de revista de fofoca (nada contra, mas não é o foco aqui), mas há algum tempo sentia que precisava falar sobre isso e, esta semana, tive mais certeza.

Sabem todo aquele episódio da treta entre Felipe Massa e Max Verstappen no último final de semana, não sabem? Pois se não, eu a contei aqui. Terminou com o holandês pedindo desculpas e, posteriormente, com o brasileiro botando panos quentes. Mas com um porém: um comentário de Nelsinho Piquet dizendo que compreendia o garoto e para ele não se preocupar com inveja. Shots fired, the treta has been planted. Mas ele podia muito bem estar se referindo apenas aos brasileiros xingando-o nos comentários, o que não tem faltado nos últimos dias - e com razão.

É de se imaginar que, naturalmente, nossos conterrâneos não tem a mais amistosa das relações desde o Cingapuragate, embora o tempo sempre sirva para amenizar essas coisas, pois como podem ver na foto acima, aparentemente os dois estavam bem, juntos numa Race of Champions.

Todos estão carecas de saber o que houve: no GP de Cingapura de 2008, por ordens do chefe Flavio Briatore, Piquet Jr. bateu propositalmente contra um guard-rail, provocando a entrada do safety car, para, digamos, fabricarem uma vitória para seu companheiro na Renault, Fernando Alonso. O que posteriormente foi revelado (de forma confessa por Nelson, diga-se de passagem) e, com isso, ele e o chefe foram praticamente banidos da Fórmula 1. Quanto ao espanhol, continuou aí numa boa como herói, sem nada sofrer.

Gente, isso já faz quase 10 anos. O preço para Felipe Massa foi alto: seu título mundial, por 1 pontinho. Mas não foi só isso que lhe tirou o caneco, e o próprio piloto faz questão de ressaltar isso. Ele mesmo, como qualquer um, cometeu seus erros, e a equipe também. Fora coisas alheias ao controle de qualquer pessoa. Mesmo em Cingapura, quando houve a correria aos boxes após o "acidente", a Ferrari deixou a mangueira de reabastecimento presa ao carro quando o liberou, perdendo tempo, e consequentemente, posições e pontos. Na Hungria, quando liderava isoladamente a poucas voltas do final, o motor foi pro saco, como dizem.

Se o preço que Massa pagou foi alto, o do filho do tricampeão também foi, senão maior. Felipe ao menos continuou no certame e teoricamente, ainda mais como estava em alta àquela época, teria mais oportunidades de disputar o campeonato. Nelsinho, porém, teve que largar a Fórmula 1.

Recentemente, essa polêmica foi reacendida quando o piloto da Williams foi ao aniversário do filho de Briatore e postou uma foto dos quatro (Felipinho estava junto com o pequeno amigo). Não faltaram comentários dos chamados "haters": "como você faz isso com o cara que lhe tirou o título?", "com o Briatore é assim, mas com o Nelsinho não, né?", e por aí vai. E enquanto foi companheiro de Alonso, teve uma boa relação com o mesmo. O que convenhamos, realmente é meio incoerente, ou pelo menos pareceu, pois não podemos julgar as coisas só pelo que nos mostram. Esse pessoal tem uma vida deles que nós não conhecemos, galera. Não sabemos de tudo. Além do mais, vida, cada um cuida da sua como bem entender. E por outro lado, isso nos mostra que perdoar e não guardar rancor, é importante. Mas podia fazer o mesmo em relação ao Nelsinho também, se é que ainda guarda alguma mágoa, pois nada comentou sobre, há muito tempo não o faz e, repito, até estiveram juntos na ROC. Já disse: nós não sabemos de tudo na esfera pessoal deles, e que ótimo que eles tem essa privacidade.

Pois bem, muito tempo se passou. Nelsinho pôde nos mostrar que a Fórmula 1 não é tudo nesse mundo. Quantas vezes eu já falei aqui que ele é um dos pilotos mais versáteis do mundo e um dos melhores brasileiros em atividade no exterior? Ganhou corridas na NASCAR, correu de Indy Lights e Global Rallycross, à WEC, no qual ainda corre, bem como na Formula E, onde conquistou seu título mundial. E em tudo isso, demonstrou extrema competência de vencedor.

Claro que para mim é fácil só falar assim de nada menos do que um título mundial, mas como já disse, ambos pagaram preços altos. Então que fique no 0 a 0.

Piquet deu a volta por cima, construiu o seu legado e pode muito bem deixar o episódio de 2008 para trás, assim como vocês que insistem em eternizar isso como um estigma nele. Por que devemos nos lembrar de alguém tão talentoso por alto ruim, do qual certamente se arrependeu, quando o mesmo fez muito mais coisas boas pelo esporte?

Da mesma forma, Massa ainda demonstra ter muita gasolina para queimar e, ao sair da Fórmula 1, como quase foi o caso no final do ano passado, ele ainda pode ganhar corridas em outras categorias, como na própria Formula E, em que inclusive fez um teste pela Jaguar. Se ainda há ressentimento, também pode deixá-lo para trás com a consciência tranquila.

São dois grandes pilotos brasileiros dos quais gosto muito, e que eu gostaria de ver tendo a melhor relação possível, sem querer dar pitaco na vida alheia, mas já o fazendo. Mas digo isso tudo, porque o talento deles e a minha admiração (e tenho certeza que não estou sozinho), é maior do que qualquer briguinha do passado, que justamente lá deve ficar.


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Um abraço!

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