quarta-feira, 5 de março de 2014

Fórmula 1 2014 - Expectativas para o início da temporada


Os testes da pré temporada sempre são importantes para verificar se tudo está funcionando corretamente nos carros, corrigir falhas, e buscar os limites. Igualmente neste ano, mas com uma importância ainda maior. Os motores V8 2.4L aspirados Mercedes-Benz, Renault, Ferrari e Cosworth foram aposentados, e deram lugar aos novos V6 1.6L turbo das mesma marcas, com exceção da última mencionada, que era bem fraco em relação aos concorrentes e só era usado por uma única equipe. A intenção disso era reduzir o consumo de combustível da categoria.

Alguns candidatos à fornecedores de motores sumiram, e um novo deve chegar no ano que vem: a Honda. A marca nipônica voltará à categoria depois de 5 anos, ao lado de uma velha companheira: a McLaren. Essa parceria garantiu um bom número de títulos no final dos anos 80 e início dos 90, com o "professor" francês Alain Prost, e o brasileiro Ayrton Senna. Bom que até lá, a McLaren fica conhecendo bem o funcionamento dos novos motores em seu último ano com a Mercedes-Benz, e vai passando informações para a Honda, na medida do possível.

Por que estou me focando nisso agora, e não fazendo uma análise geral? Porque talvez não seja lá um grande negócio para a McLaren. Claro, pode ser, mas a Mercedes-Benz está indo muito bem, e é agora que eu vou expandir o tema motores. Aliás, motor é o fator principal desta temporada. Claro que a aerodinâmica e todos os outros acertos são fundamentais, mas em 2014 o destaque é motor.


Os alemães saltaram longe dos rivais logo no início dos testes. Ao todo, foram os que mais deram voltas e tiveram os melhores tempos, com a Williams, Mercedes AMG, Force India e McLaren, respectivamente. Lembrando que as equipes ainda não mostraram o potencial verdadeiro de seus bólidos. Falhas sérias, como quebras e superaquecimento? Que eu saiba, não tiveram. No máximo, o que pode ter atrapalhado mais, foram componentes mais das próprias equipes do que do fornecedor de unidades de força. Enquanto isso, a Ferrari demorou um pouco para conseguir começar a correr e entrar no ritmo, mas logo que se recuperou já causou polêmica, da qual falarei depois. E a Renault, ah, que dificuldade... correu pouco, "devagar", e tiveram muitas, mas muitas falhas.


A Mercedes AMG fez um carro que a princípio era meio instável, chegando a rodar até com Nico Rosberg. Mas aos poucos foram conhecendo o comportamento da nova flecha de prata, e o alemão junto ao inglês Lewis Hamilton mostraram ritmo forte e constante. O mesmo pode se dizer dizer da McLaren e da Force India. Da Williams irei falar separadamente mais tarde, pois apesar de eu gostar da categoria como um todo, provavelmente muitos leitores do AutoblogPV8 buscam conteúdo relacionado aos pilotos brasileiros, e a Williams tem os Felipe, Massa como titular e Nasr como reserva.


Vamos ao caso Ferrari: irregularidade? Talvez sim, talvez não. Esses novos motores ficaram bem pesados. Apesar de terem sido reduzidos, ganharam muitos novos componentes. Uma dessas peças, especificamente, no carro da Ferrari é bem mais leve. E sabem como é na Fórmula 1, como em qualquer categoria automobilística, certo? Qualquer quilo a menos pode significar bons décimos de segundo a menos por volta, que podem conduzir à vitória. Obviamente Mercedes-Benz e Renault não ficaram nada satisfeitas com isso.

Por outro lado, a F14T não parece ser dos carros mais estáveis. Ainda na fase dos simuladores, Fernando Alonso e Felipe Massa falavam de como o carro era "escorregadio", e nos testes em Jerez de la Frontera, pudemos ver Kimi Raikkonen dando algumas escapadas de traseira. Mas pode ser arrojo do finlandês, que nós sabemos que ele tem de sobra. Inclusive ele mesmo foi quem conseguiu colocar o carro italiano entre os que correm com os motores alemães. Mas no final das contas, Fernando Alonso acabou sendo mais rápido.


A princípio a confiabilidade do motor Ferrari também não era das melhores, e a do Mercedes-Benz ainda é superior. Mas logo a Ferrari superou isso, e principalmente no final, conseguiram dar mais voltas.


Depois da Scuderia não ter mais problemas, apenas Sauber e Marussia tiveram que parar seus carros, uma vez ou outra. Aliás, ano passado a equipe russa era a única que usava os fracos motores Cosworth, mas com a saída desta da Fórmula 1, e a ida de Jules Bianchi para lá no ano passado, fez com que "ganhassem" o fornecimento de motores italianos, pois Bianchi é piloto da academia da Ferrari.


Inclusive, Max Chilton com medo de um grave incêndio em sua Marussia, deu um mega salto para fora do carro, o que acabou virando um meme. Mais tarde, no Twitter, o próprio piloto entrou na brincadeira, postando as melhores montagens que as pessoas lhe enviavam.


Quanto a Renault, vamos ser justos? Não tem toda a culpa. Não mesmo. Apesar de eu achar que o deslize é mais por parte da Red Bull, acredito que eles vão superar isso, nem que tenham que fazer mudanças bruscas no RB10. É a atual tetracampeã, então é claro que sabem fazer um carro de Fórmula 1. Não tem "apenas" Adrian Newey, mas todo um pessoal altamente competente. Só não estão acostumados a começar tão por baixo desde 2009. Podem até não disputarem o título, mas deixar de andar como quase aconteceu na pré temporada, não vão, apesar de Sebastian Vettel declarar que será um milagre se terminarem o GP da Austrália. Seja menos pessimista, rapaz.

Eu acho que Vettel não tem que provar mais nada à ninguém desde o tricampeonato, mas sempre cobram dele. Eu mesmo cobrei por muito tempo. Então, essa é a hora de calar os poucos teimosos que restam. Ganhando ou não, sei que consegue extrair o melhor desempenho de qualquer carro.

Ah, sim... Nem falei o que tem sido as pedras nos sapatos, ou nos pneus, da equipe austríaca. Duas coisas se destacaram: superaquecimento e compartimento de energia. Primeiramente vou falar da primeira, que nem afetou todas as equipes.

Lembram do KERS, que recuperava e armazenava a energia cinética gerada nas frenagens, para depois liberá-la no motor? Saiu de cena e deu lugar aos ERS, que é muito mais eficiente. O ERS é um duplo sistema de recuperação de energia. O primeiro, funciona da mesma forma que o KERS. O segundo, recupera o calor exalado pelo motor, e o transmite para a turbina. Pois é, os ERS da Red Bull e também da Toro Rosso não funcionavam, e comprometiam o funcionamento do motor. Porém a Renault detectou a falha, e logo após os primeiros testes, enviou as peças que corrigiriam esse problema. As equipes de energéticos continuaram para trás, e todos culparam quem? A Renault. Mas não irei chamá-los de coitadinhos, pois pediram por isso.

Até pouco antes do final da década passada, a equipe que era fortemente apoiada pela Renault na Fórmula 1 era... a própria Renault! Bicampeão com Fernando Alonso em 2005 e 2006. Apesar de que boa parte da escuderia já pertencia ao grupo Genii depois de seus dois anos de glória. Depois este mesmo grupo inventou de transformar a equipe em Lotus, perdendo o que restava daquele apoio, sendo que sequer a montadora Lotus gostou da ideia, permitindo essa "propaganda" apenas no ano de 2011. Isso porque em 2010, a verdadeira Lotus já havia voltado à Fórmula 1. Não a velha equipe de Colin Chapman, mas a equipe malaia de Tony Fernandes, que contava com a ajuda da montadora inglesa. Tanto que desde lá até hoje, usa as cores clássica do time: verde com detalhes amarelos.

Em 2012 a montadora Lotus cortou as asinhas da equipe negra e dourada, que deixou de usar o seu escudo, mas continuou com o nome Lotus, mesmo sem ganhar nada com isso. Já a equipe malaia, que na verdade era a que tinha direito ao nome, depois de muito insistir nisso, preferiu não fazer tempestade em copo d'água e adotou o nome de outra montadora inglesa, mas que pertencia ao mesmo grupo de empresas: Caterham.

Voltando ao foco, com isso tudo acontecendo, para quem a Renault foi? Para a Red Bull, é claro. Aproveitou do markenting gerado pela equipe tetracampeã de ascensão meteórica, falando "o motor campeão" nos comerciais de todos os seus carros. Juntou-se a Infiniti e a Nissan, e investiu pesado na equipe rubro-taurina. O que é natural. Fizeram a coisa certa, que no momento era excelente para todos. Então, merecem carregar o fardo junto com os austríacos.


Com o ERS pronto, tanto Sebastian Vettel quanto Daniel Ricciardo conseguiram dar algumas boas voltas rápidas, mas sempre correndo o risco de ver muita fumaça subindo do motor. A Toro Rosso também teve esse problema de superaquecimento, mas de forma menos grave, e que vem sendo solucionado com maior eficiência.

Adrian Newey está arrancando os poucos cabelos que lhe restam, e até então, declara que mal vê uma solução. Mas darei à ele e à toda a equipe um voto de confiança de que vão se recuperar, ou que pelo menos vão conseguir correr. Ah! E lembrem-se: é a Red Bull. Até certo ponto, podem até estar escondendo o jogo. É bem típico deles.

A Caterham nunca teve o problema do ERS. Isso porque ela não usava o que era fornecido pela Renault. Não sei dizer se ela fez o seu próprio, ou recebeu das montadoras inglesas, ou as duas coisas ao mesmo tempo, com equipe e montadoras trabalhando juntas. Ela tinha esse apoio, já a Red Bull, tinha a Infiniti, que... é do mesmo grupo da Renault.


A Lotus que não é Lotus, não compareceu aos testes em Jerez de la Frontera, onde a bomba explodiu no colo da Renault. Mas mais tarde, foi autorizada a rodar alguns quilômetros de teste para ver se o carro funcionava bem, e não teve problemas. Inclusive, como sempre muito engraçadinha, ainda alfinetou a Red Bull, tirando uma foto de seu carro, o E22, perto de uma revista automobilística na qual a capa era sobre os problemas da atual tetracampeã. Depois foi ao Bahrein, e correu normalmente. Devagar, mas sem maiores problemas.

Não esperem muito deles. Ao contrário de 2012 e 2013, talvez 2014 não seja um ano muito bom para eles. Perderam Kimi Raikkonen, perderam Éric Boullier e mais uma pá de funcionários, pois não estavam dando conta de pagar tudo e todos, e ainda devem seu ex piloto finlandês. Agora chegou por lá o piloto venezuelano Pastor Maldonado. Não sou de cornetar, e respeito todos os pilotos como profissionais. Mas cá entre nós, ele só está na Fórmula 1 graças a PDVSA. Que Maldonado, que apesar de ser muito rápido sim, não se afobe tanto. Já no Romain Grosjean eu confio desde o final de 2012.


Por último, a Williams, que aparentemente fez um bom carro. Em algumas sessões, não conseguiu marcar tempo de volta rápida, por uma falha aqui e outra ali. Mas até a sessão seguinte, esses problemas já estavam solucionados. Tem o excelente motor Mercedes-Benz, deu muitas voltas, mas muitas voltas mesmo, e é tão estável que pôde ser conduzido até por um estreante. Felipe Nasr andou pela primeira vez em um carro de Fórmula 1 neste, em um dia dos testes da semana retrasada. Não teve grandes dificuldades, se adaptou rapidamente, fez um dos melhores tempos, foi constante e conseguiu passar boas informações aos engenheiros, deixando a equipe bem satisfeita com seus resultados. Felipe Massa vez o melhor entre todos os tempos, apesar disso não significar muita coisa, e Valtteri Bottas, também muito rápido, declara que ainda estão longe do melhor que o FW36 pode dar.


Com tudo novo, podemos esperar por uma temporada altamente competitiva! E lembrando que ao longo do ano, muitas coisas podem mudar.


Melhores tempos dos testes de pré temporada 2014 de Fórmula 1 no Bahrein (apenas pilotos titulares):

(Posição / Piloto / País / Equipe / Motor / Tempo)

1 - Felipe Massa (Brasil / Williams F1 Team / Mercedes-Benz) = 1m,33s,258
2 - Lewis Hamilton (Inglaterra / Mercedes AMG Petronas / Mercedes-Benz) = 1m,33s,278
3 - Nico Rosberg (Alemanha / Mercedes AMG Petronas / Mercedes-Benz) = 1m,33s,484
4 - Valtteri Bottas (Finlândia / Williams F1 Team / Mercedes-Benz) = 1m,33s,987
5 - Fernando Alonso (Espanha / Scuderia Ferrari / Ferrari) = 1m,34s,280
6 - Sergio Pérez (México / Sahara Force India / Mercedes-Benz) = 1m,35s,290
7 - Kimi Raikkonen (Finlândia / Scuderia Ferrari / Ferrari) = 1m,35s,426
8 - Nico Hulkenberg (Alemanha / Sahara Force India / Mercedes-Benz) = 1m,35s,577
9 - Jean-Éric Vergne (França / Scuderia Toro Rosso / Renault) = 1m,35s,701
10 - Daniel Ricciardo (Austrália / Infiniti Red Bull Racing / Renault) = 1m,35s,743
11 - Kevin Magnussen (Dinamarca / McLaren / Mercedes-Benz) = 1m,35s,895
12 - Daniil Kvyat (Rússia / Scuderia Toro Rosso / Renault) = 1m,36s,113
13 - Adrian Sutil (Alemanha / Sauber F1 Team / Ferrari) = 1m,36s,467
14 - Max Chilton (Inglaterra / Marussia F1 Team / Ferrari) = 1m,36s,835
15 - Jenson Button (Inglaterra / McLaren / Mercedes-Benz) = 1m,36s,901
16 - Jules Bianchi (França / Marussia F1 Team / Ferrari) = 1m,37s,087
17 - Esteban Gutiérrez (México / Sauber F1 Team / Ferrari) = 1m,37s,303
18 - Sebastian Vettel (Alemanha / Infiniti Red Bull Racing / Renault) = 1m,37s,468
19 - Marcus Ericsson (Suécia / Caterham F1 Team / Renault) = 1m,38s,083
20 - Kamui Kobyashi (Japão / Caterham F1 Team / Renault) = 1m,38s,391
21 - Romain Grosjean (França / Lotus F1 Team / Renault) = 1m,39s,302
22 - Pastor Maldonado (Venezuela / Lotus F1 Team / Renault) = 1m,40s,59


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Um abraço!
Paulo Vitor

Um comentário:

  1. Excelente análise Paulo Vitor, essa temporada promete, espero ver muita competitividade principalmente no inicio do campeonato onde podemos ver um festival de falhas, abandonos e algumas "mudanças de hierarquia", creio que a RBR solucionara seus problemas a curto prazo, acho importante caso o Vettel não seja campeão esse, ele ter pelo menos um carro "equilibrado" para não haver aquela desculpa, "perdeu só porque o carro é bem ruim", e caso os motores Mercedes sejam mesmos os favoritos, que Lewis Hamilton vença dessa vez, o ingles merece o seu segundo titulo, vajo a Ferrari nesse principio que ira brigar na 3ª ou 4ª fila, uma penas pois Fernando Alonso merece também ha tempos o seu tricampeonato, vide 2012.
    Enfim, especulações e mais especulações... agora é aguardar, faltam 10 dias para o primeiro GP e eu como todo o mundo da F1 estamos muito ansiosos.

    Abraço!

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