sexta-feira, 2 de maio de 2014

Fórmula 1 - A herança maldita dos campeões


Ontem, completaram-se 20 anos desde a passagem de Ayrton Senna para o outro lado. Grande piloto. Talentoso, muito arrojado, veloz. Fazia tudo de um jeito diferente, especial. Seja em uma daquelas voltas absurdamente incríveis de classificação, ultrapassando todo mundo na chuva durante a corrida, ou até fora do carro, com suas frases de impacto. Um cara espetacular, como outros que passaram pela categoria.

Ao mesmo tempo que o paulista, tivemos também outro tricampeão: Nelson Piquet. E para quem entende de Fórmula 1, esse nunca foi deixado de lado. Tanto que, ao final dos anos 80 e início dos anos 90, a torcida brasileira se dividia em sennistas e piquetistas ou piquetzistas. Nelson também era competente, e talvez o piloto brasileiro mais completo que já passou pela categoria. Genial tanto ao volante quanto acertando o próprio carro. Porém, em personalidade, é bem diferente do Ayrton. Mas todos somos únicos, certo? Curto o jeitão dele também.

Naquela época, os brasileiros estavam muito bem servidos em termos de pilotos. Não que não estejam hoje, e já vou falar sobre isso. Em tempos em que o futebol nacional não ia nada bem, os amantes da bola migraram para o automobilismo. Falava-se de Fórmula 1 na fila do supermercado, na padaria, conversando com o barbeiro enquanto ele cortava seu cabelo e por aí vai. Não, eu não vivi isso. Mas já li o bastante para perceber que não era muito diferente disso.

Atenção, agora virão...


O "problema" desses caras, é que o negócio era vencer ou vencer. 2º lugar é um baita perdedor, mesmo que tenha alcançado isso com um carro meia-boca. Então eles acabaram criando uma geração de fãs na base do leitinho com pera. Isso fez com que não valorizassem qualquer um dos outros pilotos que vieram depois. Rubens Barrichello? Felipe Massa? "Não, esses aí não sabem de nada, não pilotam nada". E dizem isso sem nem saber como o automobilismo funciona. Não sabem o que é o desenvolvimento de um carro, não sabem que existem sessões de treinos livres antes da classificação e que estas são muito importantes.

E o Schumacher? "Só ganhou porque tinha o melhor carro." Ah! A McLaren MP4/4 do Senna em 1988 era uma carroça, né? Só ganhou... todas as corridas. Na verdade, todas as que disputou até o fim, pois no GP da Itália daquele ano, tanto Senna quanto Alain Prost abandonaram, e quem ganhou foi Gerhard Bergerpela Ferrari, para o delírio dos tifosi. As outras corridas? Todas vencidas pela McLaren, seja pelo brasileiro, seja pelo francês. "Mas ele não tinha adversários à altura... Deu sorte!" Pois é! Mika Hakkinen, Kimi Raikkonen, Fernando Alonso... todos péssimos pilotos, né?

Chegam até a falar bem de David Coulthard, sendo que este está no mesmo patamar de Barrichello, Felipe Massa, Mark Webber... enfim, os chamados "campeões sem título", que são sim bons pilotos. Mas a maioria deles tem a sorte de não ter a torcida brasileira. Estes em seus países são mais respeitados do que os daqui são pelos brasileiros. Mas pelo menos lá fora nossos pilotos são reconhecidos. Enquanto os estrangeiros não são tão valorizados aqui. Falta de reciprocidade.

Pois é, minha gente. Mais de 20 anos sem títulos na Fórmula 1. E só esses são importantes, não é? As categorias de base que correm a mais de 200 km/h ou até 300 km/h, pela qual todos os pilotos que chegam à Fórmula 1 passam, e quase sempre são campeões, não importam. As Fórmula 3, 3000, da montadora X ou Y que Massa, Barrichello e tantos outros tiveram que ser campeões, foram fáceis. Obrigação deles vencer, né? Mais fácil ainda quando todo mundo corre com o mesmo chassi, e quase sempre o mesmo motor... Por que será que na Fórmula 1 eles ficam tantos anos em equipes grandes, hein? Já pararam pra pensar nisso?

E além das categorias de base, que se danem também a IndyCar Series e a extinta CART, nas quais só na década passada tivemos os títulos de Gil de Ferran, Cristiano da Matta e Tony Kanaan. Fora as vitórias nas 500 Milhas de Indianápolis, do Gil, do Helinho Castroneves e no ano passado a do Tony também. Nada disso importa?

E o Bruno Senna, hein? Pois é, eu concordo com vocês que ele merecia mais uma chance, que deveriam colocá-lo pelo menos uma vez em um carro de ponta, que ele é competente. O próprio Ayrton dizia "se vocês me acham rápido, esperem só até verem meu sobrinho..." Bem, a carreira dele acabou sendo um pouco confusa e atrasada, por razões óbvias. Mas se ele tivesse outro sobrenome, coitado. Acho que o julgamento seria bem diferente...

Os pilotos de hoje não valem nada, né? É tudo automático, aham, pois é... Então, filhão... E se eu te contar que naquela volta mágica do Senna no Donington Park em 1993 ele tinha controle de tração, e que os carros de hoje não tem? Aliás, tem um outro ponto de vista esquecido ou desconhecido daquela volta, que também é impressionante. "Ah, mas isso não dá tanta diferença". Jura? Então por que você menciona tanto esse dispositivo quando fala da Benetton do primeiro título do Schumacher em 1994? Pegue qualquer carro com mais de 300 cv de potência, apenas, sem controle de tração, tração traseira, e faça uma curva pra eu ver, sem perder a estabilidade. E faça isso o mais rápido que puder! É só pra me convencer mesmo que não dá tanta diferença.

Mas mesmo assim a vida de piloto hoje parece ser tão fácil? Então dá uma lida nesse outro post aqui: http://autoblogpv8.blogspot.com.br/2013/11/automobilismo-nao-e-esporte.html

"Tá bom, tá bom... Mas naquela época valia o piloto, e não o carro!" Olha, eu concordo que ultimamente estão colocando o patrocínio que um piloto traz, na frente do talento dele. Porém, coleguinhas, entendam uma coisa: o campeonato mundial de Fórmula 1, foi, é e sempre será um campeonato de MARCAS. O piloto serve a equipe, e não a equipe serve o piloto. A equipe o apoia dando o equipamento para vencer, pois isso é do interesse dela. Acontece uma troca. Mas os pilotos são uma atração à parte. Uma atração fantástica, diga-se de passagem. São os heróis que criamos para o esporte. Nossos ídolos.

Como esse é o argumento de quem não vive muito próxima da categoria, e acompanha mais um outro esporte aí de uns caras correndo atrás de uma bola, cometerei a heresia de comparar corrida com futebol para que entendam: quando seu time ganha aquele campeonato incrível que gera uma mudança significativa e profunda na sua vida, mesmo que seu salário não esteja lá essas coisas, qual nome aparece em primeiro lugar? O do time, ou o dos jogadores? O time que é o campeão, certo? Os jogadores também, e são sim muito importantes, eles sim são os campeões de verdade ali, pois foi pelo esforço deles. Mas logo vão embora e vocês se esquecem dos coitados, e no final o que importa é o nome do time. Agora coloque-se no lugar do dono de uma equipe de corrida. É diferente. Não são só seres humanos, um campo, uma bola e duas redes. É toda uma estrutura técnica com lugares que devem ser ocupados. A equipe é sua, os carros são seus. Engenheiros, mecânicos, pilotos... são seus peões do seu tabuleiro de xadrez, para que a sua equipe vença. Eles, assim como os jogadores, podem ser peões incríveis, mas ainda são peões. De forma alguma estou defendendo o jogo de equipe. Ele é até lícito, mas se é necessário e correto, depende muito da situação. Às vezes sim, outros não.

Senna e Piquet eram caras espetaculares na Fórmula 1? Sim, com certeza. Mas Sebastian Vettel, Fernando Alonso, Lewis Hamilton, Kimi Raikkonen, Michael Schumacher, Mika Hakkinen, Alain Prost, Niki Lauda, entre outros, também são ou foram espetaculares. Cada um único e especial do seu jeito, e todos uns durões na hora da disputa. Ninguém é bonzinho atrás do volante. E os que não foram campeões, tem lá seu valor alto, sim.

"As manhãs de domingo nuca mais foram as mesmas." Olha, deve ter sido muito legal, sim, ver ele vencer. Ainda mais aos olhos de uma criança. Eu adoraria ter vivido isso. Com certeza teve uma graça diferente depois, mas ainda teve graça. Eu não deixo um atleta se tornar maior do que o próprio esporte (de forma alguma tirando o mérito desses gênios).

Sobre "quem é o melhor", vamos acabar logo com isso: não há. Isso é puramente subjetivo. Não dá para ser objetivo nisso. Dá para ser objetivo em números exatos: Michael Schumacher. Mas o melhor, depende de habilidades, e cada um tem a sua, diferente da do outro, e não mais ou menos incrível. Há vários fatores, variáveis... não dá pra comparar Niki Lauda com Sebastian Vettel, e não digo que um tem mais ou menos valor do que o outro. Épocas diferentes, carros diferentes, regulamentos diferentes, dificuldades diferentes, habilidades diferentes...

Saibam dar valor à quem merece, e só de alguém conseguir entrar na Fórmula 1, e conseguir dar uma volta com qualquer carro sem perder o controle, ele já é foda. Porque eu não faria melhor.


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Um abraço!

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