sábado, 30 de janeiro de 2016

Sobre "mas na minha época..." da Fórmula 1


Me pergunto se eu, ao chegar na casa dos 40/50 anos, vou ser tão crítico com a Fórmula 1 comparando-a aos dias de hoje, quanto os que tem essa idade atualmente, são, comparando as corridas de hoje em dia com as dos anos 70 e 80.

E eu posso falar disso com meus 22 anos, sim. Por que não poderia? Olha aqui, estou falando. E o que podem fazer para que eu não fale? Brincadeira! Pseudo-criancices à parte, o YouTube tem todo um arsenal das corridas da "Era de Ouro" da Fórmula 1, as quais eu já assisti algumas. Não foi ao vivo, mas acho que já tem alguma validade.

Sim, "Era de Ouro", mesmo. Eu concordo com vocês que aqueles pegas eram o máximo, titios e titias. Afinal, aqueles homens sentavam em monstros indomáveis de cavalaria absurda. Mas isso não quer dizer que hoje não tenha graça, ou que a emoção seja diferente pra pior.

É muito comum aparecerem até pilotos das antigas dizendo "no meu tempo, era no braço, tínhamos que saber a hora certa de trocar as marchas pra não explodir o motor ou o câmbio e... (...) hoje é só sentar, apertar uns botões, acelerar e frear", ok, beleza.

Naquela época, os pilotos também aceleravam e freavam. Quanto aos botões, demoraram um pouquinho para dominarem o volante. Mas os câmbios de hoje quebram, não quebram? Sim. E os motores? Também. Pode até ser mais raro, mas isso vai acontecer independente do carro e da técnica do piloto. Por mais Jedi que o cara seja, se for para o carro estragar, o feeling dele não vai salvar nada. Sempre foi, é e sempre será assim.

Então hoje é só acelerar e frear? Olha, se tem um cara das antigas que eu admiro demais, não só por tudo o que fez, e não foi pouca coisa, é Emerson Fittipaldi. Porque além dos feitos na pista, ele é detentor de uma grande humildade. Há poucos anos (2013), ele voltou a guiar um F1, na França (vídeo), então aos 66 anos. Poderia chegar com um "eu sou bicampeão disso aqui e ainda ganhei mais na Champ Car e sei de tudo", mas não, ele disse "eu acho que eu tenho que aprender tudo de novo hoje", e que estava mofado, haha.

Foi como um novato, pedindo instruções e aceitando dicas dos pilotos de testes da então Lotus Renault, que eram Davide Valsecchi e Nicolas Prost, e também dos engenheiros. Perguntava sobre tudo, em cada detalhe. Depois de décadas, após apenas 10 minutos, ele conseguiu fazer sua melhor volta só 8 segundos menos rápido do que o jovem italiano. Óbvio que numa prova ou treino de hoje, isso seria uma eternidade. Mas considerando todos os fatores, ele foi muito, muito rápido. Quando terminou, ele exaltou as qualidades do carro, ao invés de fazer pouco caso. Destacou ainda os desafios dos tempos modernos, e falava tudo isso visivelmente quase chorando de alegria, emocionado pelo seu breve retorno.

"Humildade e talento, não tem idade." - Glenda Kozlowski.

Eu também gosto muito do Niki Lauda, mas cá entre nós, ele é meio... cheio de si. É o jeito dele, apenas, e às vezes fica até engraçado. Enfim, quando ele foi fazer essa mesma experiência na Jaguar, sendo mais novo na época (52 anos), ele foi 15 segundos menos rápido do que o titular Mark Webber e... rodou, ainda por cima. Normal, mas... como que é mesmo, pessoal? "Os carros de antigamente eram indomáveis e..." o que mais, mesmo? Porque seguindo essa (falta-de-)lógica, os mais novos deveriam ser um brinquedo para um tricampeão daquela época.

E olha que esses dois eram de uma época que vocês consideram ainda mais difícil, e onde eles mais arriscavam a vida, morrendo um, dois e, às vezes, até três pilotos por ano.

Existiam os desafios, as dificuldades de antigamente. Mas hoje também. São outros fatores, mas eles existem. Ser rápido antigamente é diferente de ser rápido hoje, e um não é melhor do que o outro.

E por último "mas antigamente valia o piloto, e não o carro"? Jura? Poxa... Senna e Prost em 1988 e 1989 disputaram títulos com aquelas McLaren que eram os piores carros do grid, né? Nunca existiram domínios da Williams e da rival de Woking, nem nada parecido com o que há hoje. Antigamente, até os carros das equipes nanicas batiam os do pelotão de frente, das equipes de ponta. É isso mesmo, certo? Não.

É natural que os carros evoluam. E que ótimo! Afinal, isso significa mais tecnologia indo para as ruas, para termos mais segurança. A única reclamação que penso ser justa, que às vezes acho um exagero, são dispositivos como ERS e DRS, apesar de que os pilotos de ponta, já farão um uso ainda melhor deles.

Mas, bem, não adianta eu escrever nada disso aqui. Sempre vai aparecer um "na minha época os pilotos tinham 2 pares bolas entre as pernas e se peidassem explodiam até a rebimboca da parafuseta" ou "isso não é ronco de um carro de corrida" (oh, really? Formula E é o que, então?) no meu caminho, em vários momentos durante a vida toda. E repito, só espero não me tornar mais um desses chatos em algum dia.

Não vou dizer "se não gosta, então não assiste e não reclama", porque seria infantilidade (se bem que muitos dos que reclamam, já não acompanham mesmo, e por isso não sabem do que falam). Ao invés disso... Vamos chorar menos e aproveitar mais as corridas, que tal? Não só Fórmula 1, mas todas as categorias que forem possíveis.

Automobilismo sempre trouxe, traz e sempre trará emoção! Racing! Because football, baseball, bowling and golf, only require one ball.

The treta haas been planted.


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Um abraço!
Paulo Vitor

Um comentário:

  1. Olha, se tem uma coisa que só não me irrita mais porque me diverte a valer é viúva nostálgica. Eu mesma adoro (re)ver as corridas da epoca do volante de rosca, mas sinceramente acho palhaçada comparar eras. Cada uma tem suas particularidades, suas dificuldades... cada era ganhou um nível diferente de complexidade e é obvio que a modernização de tudo fez com que a parte humana tivesse que se adaptar pra trabalhar de forma diferente. Se antes os caras eram parrudos, boludos, etc, pra poder dominar os carros nervosíssimos, hoje eles são mais finos, mais leves, porém precisamo ser MUITO mais ágeis... carro conta muito? Evidente que sim. Mas o peso-pena dentro dele também tem um trabalho insano a fazer, e ainda tem que dar a farda pra não quebrar esse brinquedo caríssimo. Todos tem seu mérito. Se antigamente pra vencer no decathlon a turma tinha que esfolar o manche, hoje pra dominar o just dance tem que ter as perninhas bem ligeiras. A cada geração suas caracteristicas e seu mérito. E é isso.

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