domingo, 10 de novembro de 2013

Automobilismo não é esporte?



Antes de tudo: é, a fonte está diferente. O Blogger não quis cooperar muito comigo, hoje. E outra coisa é a grande notícia automobilística do dia, que foi escrita pelo Pádua no Piston GP Team.

“Os caras não fazem esforço nenhum, e principalmente nesses carros de hoje, é só sentar lá e levar o carro até a linha de chegada.” É, eu ouço esse tipo de coisa, infelizmente. Sobre esse tipo de opinião, com todo respeito: faço coisa muito mais decente no vaso daqui de casa, todos os dias. Nesta postagem vou usar a Fórmula 1 como exemplo, por ser a categoria automobilística mais conhecida do mundo (e mais cara). Mas isso serve para o automobilismo em geral.


Beleza, campeão, se você pensa assim, deita lá no cockpit e vença dirigindo tranquilamente. Ah sim, é quase deitado mesmo, e não sentado, que o piloto fica. O que deve deixar o exercício no mínimo um pouco... estranho, e pouco confortável, pois ficam como corcundas lá dentro por quase duas horas. Imaginem o alívio ao sair e esticar as costas. Mas tudo pela aerodinâmica, não é?

Se Fórmula 1 não é esporte, queria entender o motivo das dietas rigorosas e o pesado treinamento físico dos pilotos. Vou dizer o porquê: é muito mais desgastante do que parece, pilotar uma daquelas máquinas. Vamos a alguns dos principais fatores.

Ignorando toda a influência da física e o, digamos, impacto que o corpo sofre, o F1 por si só, já é um monstro indomável até para o amador que já dirigiu carros esportivos uma vida inteira. A aceleração é brutal, a força dos freios é “cabulosa”, o torque é violento... toda reação de um F1 é muito maior e mais agressiva do que vocês podem imaginar. Com controle de tração (dispositivo que atualmente não tem na Fórmula 1, o que dificulta bastante na condução), já seria difícil dar uma simples volta (longe da intenção de fazê-la no melhor tempo possível) com a pista totalmente seca, e com o carro totalmente sob controle em 10% do trajeto. Agora imaginem fazer isso no limite de cada curva, na maior velocidade possível, às vezes sob forte chuva, deitado e curvado num lugar não muito agradável e que não lhe permite ver muita coisa. Ah sim, o campo de visão do piloto é limitadíssimo. Ele mal vê o chão que está mais próximo ao carro, o que dificulta ainda mais nas curvas, ainda mais feitas no limite. E apesar dos retrovisores, eles veem pouca coisa atrás. Muitas vezes ficam acima dos 300 km/h e facilmente acima dos 200 km/h, e sendo assim provavelmente o raciocínio do piloto deve ser ainda mais rápido do que o próprio carro. Um errinho ali, e tchau.

Agora, falando um pouco sobre o sofrimento do corpo... Sobre o banco, eu já falei duas vezes, mas não falei de todas as coisas que estão afetando quem senta ali. Sob forte sol ou chuva, exposto ali dentro de trajes e capacete que cobrem todo o seu corpo, em velocidades altíssimas. Isso sem falar na força G (pelo menos isso você deve ter uma noção do que é) empurrando pra lá e pra cá, multiplicada em várias vezes ao que estamos acostumados a sentir. O pescoço "nem" deve doer... Se para o piloto profissional já é difícil, imaginem para os “fodões” que tem a opinião m*rda (com o perdão da palavra) que eu citei lá no começo.

Ah! Falei da dieta rigorosa, né? Pois é, Jenson Button por exemplo, além da dieta, anda muito de bicicleta para manter um baixo nível de gordura no corpo. Detalhe: só nos finais de semana de corrida, esse pessoal perde uns 3 ou 4 quilos. Tem certeza que não é desgastante?


Ainda há o risco, e todo piloto tem consciência desse fator "pouco" importante. Apesar de nenhum piloto ter morrido depois de Roland Ratzenberger e Ayrton Senna no GP de San Marino de 1994, naquele 1º de maio, ainda existe risco na Fórmula 1. Os carros estão muito mais seguros desde então, mas não foram poucos os acidentes catastróficos que poderiam ter matado pilotos nestes últimos quase 20 anos, e nestes, muitos já saíram feridos, até com ossos quebrados. Para citar outra categoria, na Indy o risco é maior ainda. A última morte foi até recentemente: a de Dan Wheldon, na última corrida de 2011. Naquele ano ele foi campeão das míticas 500 Milhas de Indianápolis. Se envolveu numa confusão em um daqueles perigosos circuitos de speedway/superspeedway ("ovais curtos/ovais longos", como são conhecidos no Brasil), bateu e seu carro saiu do chão em chamas. Isso “beliscando” os 400 km/h. Ao saírem desse tipo de circuito após centenas de voltas a essa velocidade nos mesmos, provavelmente devem se sentir, digamos, jogados para a esquerda e zonzos por um bom tempo. Principalmente os iniciantes.


Aproveitando que mudei de categoria: e turismo, hein? Não, senhor leigo “F1 é fácil e não é esporte”, eu não estou falando de viajar. Carros de turismo são aqueles no “estilo stock car” (vou dizer assim para ficar mais fácil de entender). Eles ficam sentados de uma maneira melhor no carro. Mas o calor que faz lá dentro é absurdo, e o esforço físico e mental continuam altos.
 
Ah! Esqueci de falar que em qualquer categoria, o piloto tem que conversar com seu engenheiro e chefe de equipe. Bom, conversar e dirigir normalmente já tira um pouco da concentração do motorista, nem preciso falar como deve ser em todas as condições que eu já mencionei. Sem falar no barulho – perdão, som, ronco, música – do motor ali pertinho, quase ensurdecedor. Pelo menos o capacete, a balaclava (aquela touca) e os fones já devem aliviar um pouco disso. Porém, ainda não deve ser muito fácil entender o que é dito.


O argumento final: "mas eles praticam esse pseudo esporte através do carro". Depois de tudo o que eu falei, se alguém ainda pensar nessa besteira, a resposta é simples, e vai em forma de pergunta: por que tem prova de barco à vela nas Olimpíadas? É essa a lógica de vocês, não? Se tem algo interferindo, não seria esporte. Mas claro que é.

É por tudo isso e muitas outras razões que eu não citei aqui, que eu respeito até aquele que é considerado o pior piloto de qualquer grid, pois até o que ele faz já é absurdamente incrível. Acreditem, esse não é um ESPORTE para pessoas comuns. Aqueles “caras que só sentam e simplesmente dirigem confortavelmente”, são sim super atletas.

Fangio, Gilles, Senna, e tantos outros que já se foram, perdoem estes seres infelizes (risos).


Um abraço!

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Olá, Antoninho! Me desculpe pela demora, pois eu estava de férias. Quantos absurdos esse "intelectual" diz, hein? Aliás, há muito tempo as marcas de cigarro deixaram a F1. As de bebida continuam, mas não em grande quantidade.

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