sábado, 14 de setembro de 2013

Vão ver "RUSH"!

Em "Divinothing" (Divinópolis), cidade em que nasci e onde eu moro, o filme "RUSH - No Limite da Emoção", de Ron Howard, que estreou ontem, só chega daqui a duas semanas. Então eu tive que ir em Belo Horizonte para poder assistir. E querem saber? A "viagem" (não é muito longe) valeu a pena.


O filme é apenas baseado em uma história real, e não a mesma sendo contada exatamente como tudo aconteceu, o que não me incomodou nem um pouco. Este filme não é só para os amantes do automobilismo, até porquê tem como objetivo alcançar outros públicos. Se você ama a Fórmula 1, vai adorar o filme, e se você nunca assistiu uma corrida, vai adorar também. Quando vão fazer um filme, querem que muitas pessoas assistam e que gere muito dinheiro. Então é mais do que óbvio que a rivalidade e os egos de Niki Lauda e James Hunt foram muito inflamados. Qualquer um no lugar do diretor e do roteirista faria isso. Mas esse exagero não prejudica o filme. Muito pelo contrário: você "se prende" ainda mais na história. E também, mesmo com essas modificações, as personalidades desses rivais foram muito bem demonstradas.

Como eu havia dito, as cenas de corrida não são o foco. Este, é a história intensa de uma das maiores rivalidades da história da Fórmula 1. Particularmente, eu fiquei satisfeito com a quantidade de cenas automobilísticas, mas claro que não reclamaria se tivessem mais algumas. Para compensar, elas são belíssimas, muito bem produzidas. É ótimo ver essas máquinas incríveis voando baixo. Aliás, usaram os carros reais daquela temporada, então não era muito bom ficar ameaçando a "integridade física" dos mesmos nas filmagens. A dificuldade para guiá-los reforça isso.

Chris Hemsworth, o "Thor" da Marvel, foi o ator escolhido para interpretar o playboy James Hunt, que vivia no estilo sexo, drogas e Rock N' Roll até a sua morte em 1993, quando sofreu um infarto algumas horas depois de ter pedido uma mulher em casamento (não é spoiler, pois o filme só mostra os anos 70). Chris encarnou o personagem, mostrando perfeitamente a forma intensa de viver do campeão inglês, mas não é tão parecido com o Hunt original. Um piloto bem arrojado e muito rápido, mas longe de ser dos mais completos. Isso é mostrado no filme, pois Niki aponta isso como um defeito dele.


Não é querendo diminuir a atuação de Chris, mas Daniel Brühl, conhecido pelo seu trabalho em "Bastardos Inglórios", foi um Niki Lauda sensacional! Não só pelo modo de agir e falar, mas também na aparência. Até uma dentadura Daniel usou, para ficar parecido com um "rato", como James se referia à ele, entre outros apelidos "carinhosos". E o sotaque, então, foi um grande desafio muito bem cumprido: falar o Inglês com sotaque alemão de um austríaco. Niki Lauda ficou um pouco mais rude do que o verdadeiro, mas só um pouco mesmo. Um piloto que não fazia o seu trabalho muito pela emoção, e não se arriscava a toa, mas que era muito habilidoso no volante, extremamente rígido com si mesmo, e que fazia modificações e acertos geniais em seus bólidos.


Por falar na linguagem do Daniel como Niki, não assistam esse filme dublado. Eu não sou daqueles "mimimi, não vejo filme dublado, mimimi" que gostam de falar isso só para pagar de quem fala Inglês fluente (ou seja, quem não fala nada e só fica dizendo esse tipo de coisa pra aparecer, pois se realmente for fluente, o melhor é assistir com o áudio original mesmo). Existem dublagens mal feitas, e dublagens bem feitas, e é uma arte, uma forma de atuação. Na Europa, mais especificamente na Itália, quase tudo o que é exibido em qualquer lugar, é dublado. É um trabalho difícil e que se for bem feito, fica ótimo. Mas aqui no Brasil, os nossos pseudo-intelectuais enchem o saco por isso. Mas enfim, estou perdendo o foco por causa de uma pirraça pessoal minha. Chegando onde eu queria chegar: assistam com o áudio original, porque é muito legal ver o Daniel falando, e também os idiomas originais são preservados, podendo-se ouvir além do Inglês, no mínimo mais outros dois idiomas, que são o Alemão e o Italiano. E também alguns trocadilhos só podem ser entendidos no idioma original em que são feitos.

Lá no início, falei da rivalidade e egos exagerados, mas pelo menos no final do filme, aparece o verdadeiro Niki Lauda dizendo que James Hunt "era um dos poucos de quem eu gostava, e um dos menos ainda que eu respeitava". Hunt e Lauda foram grandes rivais, mas não inimigos.


Justo, não? Fazem um filme com uns exageros, mas que conta bem a história, apesar de omitirem e inventarem algumas coisas. Mas em compensação, há o depoimento de Lauda. Afinal, já falei: baseado, e não recontando a história exatamente como ela foi. E isso foi ótimo para mostrar a extrema oposição de personalidades dos dois. James Hunt, festeiro, mulherengo, bêbado e drogado que vomitava antes das corridas, piloto arrojado mas não tão inteligente quanro Niki Lauda, que não era muito de sair e se divertir, mas que em compensação era um piloto completo em que não se pode apontar defeitos.


Sobre a cena do acidente quase fatal de Lauda, uma curiosidade: foi Emerson Fittipaldi que tirou o austríaco em chamas de dentro da Ferrari. Eu sabia que Emerson tinha parado o Copersucar por perto naquela ocasião, mas não sabia que tinha sido ele quem puxou o tricampeão (até ali, apenas campeão) pelos braços, salvando-o. Não é spoiler, afinal, todo mundo deveria saber desse marco na vida de Niki, e isso aparece em todos os trailers.


Por falar em coisas do Brasil, não gostei muito da cena do Grande Prêmio daqui. Aquele estereótipo de sempre foi feito mais uma vez: Carnaval, bagunça e festa, com mulheres quase nuas (nos anos 70!) e uma agitação fora do normal, exagerada até para o que realmente fazemos, como se aqui fosse assim o ano todo.


Fora isso, e um desrespeito do pessoal da McLaren com Emerson Fittipaldi (que talvez nunca tenha acontecido de verdade) ao colocarem James Hunt no lugar do bicampeão brasileiro, o filme é ótimo. Nem o Fittipaldi reclamou disso. Muito pelo contrário: adorou o filme e só apontou como defeito algo que eu já disse: Niki das telonas é um pouco mais rude do que o Niki verdadeiro.

Fittipaldi foi convidado à substituir Lauda enquanto este estava no hospital, e recusou. Sobre este fato, Emerson falou algo marcante ao Globo Esporte: "A cena que mais me pegou foi quando o Niki estava morrendo, porque lembro que o Enzo Ferrari me ligou à meia noite, no hospital. O meu médico saiu de uma reunião com o médico do Niki e me disse: 'Ele vai morrer porque está intoxicado, não consegue mais respirar, a pleura do pulmão queimou'. Eu estava chocado, do lado do quatro (sic.) do Niki, quando o Comendador Ferrari me disse: 'Você quer guiar já na próxima corrida? Estamos prontos'. E o Niki ali, morrendo. Esse é o mundo ingrato da Fórmula 1. Fico emocionado."
Bom, já estou falando demais...

Aqui, uma outra análise que fiz sobre este filme, no Piston GP Team:  http://pistongpteam.blogspot.com.br/2013/09/analise-do-filme-rush-por-paulo-vitor.html

Um post mais antigo do AutoblogPV8, sobre James Hunt: http://autoblogpv8.blogspot.com.br/2012/05/o-maior-playboy-da-historia-da-formula.html

Se ficou interessado em saber mais sobre Emerson Fittipaldi e a Copersucar, única equipe brasileira na história da Fórmula 1, aí vai outro post do Piston GP Team: http://pistongpteam.blogspot.com.br/2013/05/para-refrescar-memoria-escuderia.html


Um abraço!

PS: trailer:

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